Parêntese #2

Estava eu a caminhar pelo Setor Comercial Sul em busca de informações que me ajudassem a chegar ao restaurante “Árabe do Brasil”. Aquilo ali é meio confuso para quem não está acostumado. Pergunto para a moça da quitanda, o cara do “vale-tique”, a senhora que vendia cocadas e também a um grupo de homens sentados na calçada.

É interessante a existência de uma cordialidade, por vezes exagerada, das pessoas ao dar informações. Várias histórias de vida, muitas delas sofridas e de lutas (claro, os engravatados do SCS não passam seu horário de almoço com a “ralé”) estão por trás das informações dadas. Então você pergunta qualquer coisa, e todos se engajam muito para te responder. Mil direções que, às vezes, só atrapalham e te confundem mais! Se não sabem, as especulações e possíveis direções para o endereço desejado são ainda maiores! Aí você está com pressa e ainda se irrita com tanta informação. É sempre bom valorizar cordialidades em tempos de rudezas e esquecimentos de gentilezas. E ainda, é bom rir da situação que você se depara apenas por perguntar. Você tem que agradecer várias vezes, pois sempre tem mais alguma informação depois que você diz “obrigado”! Mas tudo bem, muitos “obrigados” para singelas cordialidades”!

Tentei juntar as informações, andei um pouco e não achei o endereço. Então tentei conversar com alguns policiais miliares que estavam parados perto de uma casa lotérica. Depois de um “Oi gente, boa tarde”, fui fuzilado (ó o trocadilho) por olhares que pareciam querer dizer: “como ousa dirigir a palavra para os legítimos representantes da lei?!”. Após 5 longos segundos, um dos três fardados me responde com um breve “Boa tarde, cidadão”. Pergunto sobre o supracitado restaurante, e não ouço NENHUMA resposta. Continuam a ouvir as palavras que saem do rádio da corporação. Insisto, “é difícil achar as coisas aqui, ainda bem que conhecem [nem “vocês” nem “senhores” para referir-me a eles] o local para me ajudarem...”. Passados mais uns 10 segundos, o soldado Teles [nome real para não preservar a identidade do dito cujo] olha em minha direção e diz: “sobe depois daquele prédio [apontando] e vira à direita [gesticulando para a esquerda]”. Rapidamente voltaram a escutar os sons do rádio e eu já novamente não existia. Segui à esquerda e, de fato, ele não sabia o que dizia, mas sua mão sim, ao menos. Cheguei ao restaurante, por fim.

É impressionante como alguém de farda impõe medo às pessoas. Ao ver um policial fardado, a sensação é de se afastar, de evitar qualquer tipo de contato. E essa postura só intimida o trabalhador, o pai e a mãe de família, a criança que só tem a rua como casa.

Em um mesmo local, numa mesma hora, vivência de cordialidade sincera imersa no medo da hostilidade gratuita de quem, teoricamente, deveria zelar pela segurança e proteção de todos. Segurança essa que está nas mãos de um profissional que nem sabe ao certo o que é ser cidadão, nem sabe o porquê de estar ali.

Mas fica a felicidade em afirmar: que bom que ainda não é cada um por si!

Ps.: Imagem aleatória. XD


2 Comments:

  1. ortegal said...
    E o pior é que os PMilitar exercem o papel de PAdministrativa, ou seja, dar informação está mais do que na obrigação deles. (eta direito administrativo que ainda levou nóis a algum lugar hein! o/ )

    Já a Gente Humilde é aquilo, né!? Pra muitos ali, ajudar é uma questão moral - e pra muitos ali a moral foi a única coisa que esse sistema desgraçado não conseguiu arrancar.
    Esse povo é o que eu considero meu. Já dizia o Prof. Pablo "Eu mesmo me elegi representante da favela". To com ele, e nessas horas sinto orgulho.
    Eduardo Chaves said...
    É, Ortegal, assim como os policiais que agridem estudantes que lutam pelo passe-livre... Poderia ser um filho deles, mas nem precisava tanto. Ser cidadão é o que, né?

    o/

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