A sociedade brasileira está comovida. Não só isso, ela está interessada e disposta a saber tudo sobre o novo hit dos meios de comunicação tupiniquim: o caso Isabella.
A primeira notícia, em 30 de março, foi “menina de 5 anos é jogada pela janela do sexto andar de apartamento em zona nobre de São Paulo.” Chocante, né?
Passaram-se algumas semanas e rádio, TV e internet só falam sobre isso. Não só falam do caso em si, mas também dos sub-assuntos que englobam o assassinato, como a discussão sobre o caráter do pai e madrasta (possíveis assassinos); a dor da mãe que perdeu a filha e amiga, como ela mesma diz; os vícios de forma encontrados pelos advogados de defesa; as contradições nos depoimentos dos acusados e etc. O mais interessante é quando há notícias do tipo “família viaja 800km para visitar a casa dos pais de um dos acusados de terem matado a menina Isabella”. Em dia de interrogatório, essa comoção extrapolou tudo: pessoas faltando ao trabalho e à escola só para terem o prazer de estar perto das novas celebridades da sociedade brasileira.
Em uma dessas reportagens eu vi uns moleques chutando o portão da casa de alguém que tem parentesco com o pai da menina morta. Em outra, falava-se do comércio popular que se instaurou perto da delegacia onde estava ocorrendo o interrogatório. E a delegacia ainda parou TODOS os processos para se dedicar exclusivamente ao caso.
Ontem eu estava zapeando e vi “a primeira entrevista dos acusados” na TV Globo. Lágrimas aqui, opinião popular dalí. Foi mesmo um programão de domingo... Hoje no jornal da hora do almoço teve uma entrevista com um psiquiatra forense (!) para analisar as imagens da entrevista do casal no Fantástico.
Obviamente foi um crime bárbaro, cruel e que precisa ser resolvido. Mas eu me pergunto onde está a comoção da sociedade brasileira para todos os outros casos de assassinato de crianças nas periferias. Crianças que são vitimas do tráfico de drogas e de armas. Crianças que são vitimas de sua condição precária de saúde e educação e que morrem todos os dias das mais diversas formas, tão ou mais cruéis que a do caso Isabella.
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