Fico imaginando como era a geração saúde há 20 anos. Penso em um comercial de TV com aqueles caras com shortinhos curtos correndo com uma Polaroid no pescoço, umas minas nadando com maiô grandão... Há 10 anos começou a onda das academias. Academia de musculação, academia de dança, academia de artes marciais, academia brasileira de letras (repeti a palavra ‘academia’ tantas vezes só pra fazer essa piada. Que coisa...). Tem academia para tudo!
E hoje, qual o mote da geração saúde? Pedir pizza de calabresa, sobremesa com calda de chocolate e uma coca light?! Pior quando vêem com o lance de “agora só comemos frango grelhado e boi orgânico...”
Até nos discursos que tentam trazer a saúde embutida, ainda que nitidamente de forma contraditória, há a promoção da não-saúde. Alguém com consciência na hora de escolher o que comer ou vestir é altamente nocivo ao sistema que está aí. Saúde gera menos grana que a doença; é por isso que aquela galera de academia adere à coca light no jantar podrão como forma de “evitar calorias” e não pensa em nada além de esculpir o corpo e tê-lo como marionete do fetiche.
Isso é mais observável quando se pensa que a não-saúde é vendida para todos. E todas (!). Alguém que está acima do peso é visto como prato cheio para alimentar a indústria dos fast-foods, planos de saúde, salões de beleza (parece que tem drenagem linfática de 100 legais...) e etc. Mas como ser magro é contraditoriamente uma exigência, você tem que tentar ser esbelto por fora, mas ter hábitos ruins.
Eu acho que a diversidade é sensacional! Que bom que temos gente de tudo quanto é jeito! Mas não se trata de diferença ou igualdade. Trata-se de ter um discurso de diversidade em que ser gordo ou magro não é conseqüência do viver de cada um, mas sim de uma exigência maior que tem um fim no consumo de algo. Se você é gordo e quer emagrecer, vão te vender um remédio qualquer que vai ter deixar magro, mas em alguns anos você terá que fazer um tratamento caro de saúde. É como diria o Chaves, “e assim substantivamente...”.
O lema é: você pode ser o que quiser ser, desde que não seja desse jeito aí. Ah, até pode, desde que não se esqueça de pedir uma coca light.
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