Liberdade em 2 Rodas.

Esses dias um comercial me chamou atenção na televisão. Retratava um rapaz (Amadeu) que chega atrasado no trabalho. Ele argumenta que se atrasou devido ao trânsito, que o ônibus não passava... Aí o chefe diz: “ônibus? Coloca alguma coisa na cabeça, Amadeu (e enfia um capacete na cabeça do Amadeu)! Passa na Freedom e compra uma Honda. Quem tem Honda, não se atrasa!”. Daria para argumentar que isso incentiva a imprudência de andar entre os carros e que poderia causar acidentes, mas nem é preciso ir tão longe.

O segundo comercial da “série” começa com o Amadeu esquematizando de sair com uma mulher. Ela pergunta se eles vão para a balada e ele diz que sim, que era só ver o horário do buzão. Nesse momento, a mulher fica furiosa e diz que não vai para a balada de ônibus e manda o Amadeu passar na Freedom para comprar uma moto e, aí sim, pegar minas, ir pras baladas e etc... Já deu para sacar, né? Sem contar que a mina tem a pele marrom, tipo bronzeada, quadril largo, calça da gang e marquinha de biquíni saindo por cima da calça. Ah, ela tem o cabelo amarelo também. [pele marrom, cabelo amarelo... embranquecimento... ]

O terceiro comercial mostra o Amadeu desempregado. Então alguém fala que ele deve ir urgentemente à Freedom, pois “quem tem uma Honda tem emprego.”

Certo, recapitulando: quem tem uma Honda da Freedom não se atrasa e não leva bronca do chefe; terá emprego garantido e; poderá pegar as meninas e sair para as baladas.

O fetiche em ter está impregnado em tudo e é camuflado como justificativa para querer ter cada vez mais. Como alguém pode não querer não se atrasar? Ou não ficar desempregado? Ou ainda, não querer ir para baladas e ficar com as meninas? Querer tudo isso pode ser legítimo, mas não através de necessidades criadas tendo como pano-de-fundo necessidades reais de trabalho, diversão e relacionamentos.

Em que se tornam as pessoas, senão meras marionetes de consumo?

ps.: o link para quem quiser ver a mina do Amadeu no youtube. http://www.youtube.com/watch?v=hinzsJ0ck94

3 Comments:

  1. Divagações, pão e circo said...
    Apoiadíssimo. Tenho pensado muito sobre meus padrões de consumo ultimamente.
    angelica duarte said...
    o mais curioso de te ler depois de tanto tempo é perceber as diferenças nos discursos, nos tons, no peso e nas palavras.

    é sempre bom ver a transição alheia. :)
    Eduardo Chaves said...
    Realmente, temos que ficar bem atentos para não sermos manipulados e acabar caindo em mais um padrão de consumo... Em outra propaganda, dessa vez do Boticário, elencou-se se as pessoas gostariam de viver em um mundo sem vaidades, e o fez ambientando um mundo sem graça, padronizado. Aí eu me pergunto, todo mundo usar o mesmo Nike, beber a mesma cerveja, ter os mesmos acessórios e etc, não é mais padronizado ainda? Acho muito interessante ver como as coisas são distorcidas e prol de algo que as "marionetes" nem percebem, né?... Fiquemos de olho!

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