Eu me lembro do ano de 1992, março, 18. Saia eu de casa, usando bandana e um shortinho parecido com o do Axl, para o Conjunto Nacional comprar o Use Your Illusion II, o último disco de inéditas do GN’R, lançado no ano anterior. Poxa, de lá pra cá foram 16 anos! Muitas histórias em torno do processo de criação do disco, infâmias e etc. Mas em 23 de novembro foi lançado o disco que esteve em produção desde 1999. Resumidamente, é um disco sensacional. Moderno e oldschool, limpo e sujo, sensível e agressivo. Mas não tente comparar com o disco de 1991, pois há poucas semelhanças. Mas isso é bom, pois concordo com o Axl quando ele diz: “aquilo lá [a banda dos anos 80 e 90] era o antigo Guns. Isso, agora, é apenas Guns!”. Estima-se que
Escute Chinese Democracy em www.myspace.com/gunsnroses
É clima de Natal. É clima de ano novo. Como foi 2008 para você? Desejaste, no fim de 2007, “felicidade com muitas sementes de romã na carteira”? Desejaste sucesso? Hum...
É impressionante como tudo gira em torno de prazeres efêmeros. Ganhar dinheiro, ser “feliz” [com dinheiro]. Que tal desejar ser uma pessoa mais humilde? Que tal desejar que suas palavras e ações afetem de forma boa a outras pessoas? Que tal mudar seus desejos?
É nessas horas que eu fico pensando sobre como é a vida. Ou como ela deveria ser. Mas chega um ponto em se percebe que a vida já começou. Explico.
Desde pequenos nos é dito que “temos que estudar, pois teremos que ser alguém na vida”. Na adolescência, “temos que estudar e fazer um curso de inglês, pois teremos que ser alguém na vida”. Na universidade, “você tem que estudar e arrumar um estágio, pois...” Ahhh! Que coisa! Quando a vida vai mesmo começar? Já começou! Acorda pra vida! Não é colocando sementes de romã na carteira que a vida fará sentido. Não se você continuar a se recusar a viver. Não se você insistir em ser alguém de alma vazia e sem que sua existência seja relevante. O dinheiro virá, mas não poderá comprar tudo que te faça ser uma pessoa de fato, no sentido mais integral que essa palavra possa ter.
Mas isso tudo é difícil e não pretendo explicar pormenorizadamente. É, apenas, uma tentativa de apontar essa estranha e confusa natureza das coisas. Nem sabemos mais o que é comemorar o Natal, por exemplo. Tudo, especialmente nessa época do ano, se torna tão patético, que ainda há quem consiga viver em paz de espírito sem ao menos pensar uma única vez sobre a conseqüência da própria vida. Mas o ato de pensar vem com muitos obstáculos; demais até, para se tornar realidade. É pertinente fazer diferente? Talvez. Deve ser por isso que uma topeira cega consegue se alimentar, todos os dias, em seu buraco.
E não se esqueça: neste Natal, não coma o presépio! ;-)
“Quer dizer então que eu levei um tiro porque um safado branco quer matar um outro safado branco que matou o idiota do irmão branco dele?!” (Samuel L. Jackson, em Duro de Matar 3).
Ta chegando, hein? Há alguns meses se anunciou a tal crise econômica. É interessante o parasitismo internacional de países como os Estados Unidos. Sem querer bancar “o” crítico, sem querer apontar nesse cenário a falência desse modelo de produção econômica e sem querer falar “todo mundo já sabia”, apenas me pergunto quais serão as reais conseqüências para o Brasil daqui alguns dias. Ou semanas, quem sabe. Dizem que essa crise mundial não é suficiente para afirmar que o liberalismo faliu. Ora, 700 bilhões de dólares para salvar o capital, vindo do Estado, é um ato contraditório até mesmo para os defensores desse liberalismo aí. O mercado que se regule, não era assim?
Daqui a pouco a gasolina sobe, por exemplo. Aí o aumenta custo dos transportes, o que aumenta o preço final dos alimentos. Isso sendo simplista na análise. Vai muito além disso. Coloca tudo na ponta do lápis no fim do mês... Tenta-se a salvação do capital, o Brasil adota o discurso otimista de que “a crise é deles”. Tá bom.
Ainda não deu em nada, né? Mas enquanto isso, para o trabalhador, é só a crise (...).
Esses dias a Amazônia ganhou muitas páginas de jornal e espaço em veículos eletrônicos de comunicação. “Desmatamento da Amazônia” – culpados são os madeireiros. né? Desmatamento para aumentar os pastos para você consumir o boi que vai pastar nos restos da Amazônia. Você come a Amazônia.
Água. Tem chovido cada vez menos. Ano passado demorou uns três meses além do normal para chover. Mas foi só ligar o ar condicionado do carro que ficou tudo bem, né não? Ou então ir para o clube, tomar mais sorvete ou passar mais fins de semana em Caldas.
O grande problema é que essas questões todas não estão mais subjetivas, nem mesmo para as pessoas que se recusam a (re)pensar sua inserção no planeta. Não só a forma de se alimentar, mas a forma de não pensar que cada ato pode estar contribuindo para esses sintomas de morte lenta que aparecem a cada dia. E olha que nem falei sobre o derretimento das geleiras, desaparecimento de diversas espécies da fauna e flora mundial, fome e morte nos continentes do hemisfério sul... tudo isso porque cada um de nós insiste em não pensar em coisas simples, mas que se negligenciadas continuarão como sintomas de algo (muito) maior e grave.
Enquanto isso, segue o seco.
O segundo comercial da “série” começa com o Amadeu esquematizando de sair com uma mulher. Ela pergunta se eles vão para a balada e ele diz que sim, que era só ver o horário do buzão. Nesse momento, a mulher fica furiosa e diz que não vai para a balada de ônibus e manda o Amadeu passar na Freedom para comprar uma moto e, aí sim, pegar minas, ir pras baladas e etc... Já deu para sacar, né? Sem contar que a mina tem a pele marrom, tipo bronzeada, quadril largo, calça da gang e marquinha de biquíni saindo por cima da calça. Ah, ela tem o cabelo amarelo também. [pele marrom, cabelo amarelo... embranquecimento... ]
O terceiro comercial mostra o Amadeu desempregado. Então alguém fala que ele deve ir urgentemente à Freedom, pois “quem tem uma Honda tem emprego.”
Certo, recapitulando: quem tem uma Honda da Freedom não se atrasa e não leva bronca do chefe; terá emprego garantido e; poderá pegar as meninas e sair para as baladas.
O fetiche em ter está impregnado em tudo e é camuflado como justificativa para querer ter cada vez mais. Como alguém pode não querer não se atrasar? Ou não ficar desempregado? Ou ainda, não querer ir para baladas e ficar com as meninas? Querer tudo isso pode ser legítimo, mas não através de necessidades criadas tendo como pano-de-fundo necessidades reais de trabalho, diversão e relacionamentos.
Em que se tornam as pessoas, senão meras marionetes de consumo?
ps.: o link para quem quiser ver a mina do Amadeu no youtube. http://www.youtube.com/watch?v=hinzsJ0ck94
A premissa é simples, mas Wall-E vai muito além disso. Alguns clichês estão lá, é verdade. Mas, diferentemente de Bee Movie – que aborda de forma equivocada a relação humanidade/natureza, camuflando a real expropriação dos animais pelo homem de forma muito simplista -, Wall-E aborda essas questões muito sutilmente, mas que, inevitavelmente, findarão por se concretizar em um futuro não muito distante.
O visual do filme é lindo, a narrativa cativante... é tudo perfeito nesse filme. Só espero que as pessoas consigam interiorizar a mensagem, não apenas entender o filme com mais um simples momento de diversão (cara, por sinal).
O engraçado é que já dá pra observar, no nosso dia-a-dia, o modo de vida retratado no filme. Destruição, alienação, desamor e etc. Se parar pra pensar bem, alguns pais/tios/etc poderiam muito bem já estar aptos para morar em Axion. Ah, e você também.
[introdução simpsons' style] Quando se é criança/adolescente em uma chácara isolada, sem telefone e em pré-internet, acesso às culturas sempre foi meio complicado. O contexto era casa /escola, escola/casa. Cinema, uma vez por semestre. E olhe lá. Teatro, fora de realidade. Então a Tela-Quente me mostrava algo novo, legal e divertido. Karate Kid, Curtindo a Vida Adoidado, dentre outros. Mas em sua maioria, eram filmes hollywodianos sem algo além do que era projetada pela luz da tevê. [/introdução simpsons' style]
Eu lembro que fiquei acordado até de madrugada e vi “O Iluminado”. Tive pesadelos e fiquei pensando nesse filme por muito tempo. Quando cresci, assisti novamente com outro olhar, o que reiterou minha admiração pelo Jack Nicholson – meu ator preferido (pouco à frente do Jim Carrey =).
Jack já ta com uns 70 anos. Fez uns 60 filmes. Dentre eles Batman, interpretando o memorável Coringa. Personagem que ganhou nova cara com a atuação do Heath Ledger. Que morreu, aos 28 anos, em janeiro, deixando uma filha de 2 anos.
Ele era, com certeza, um dos melhores atores da nova geração e eu sempre pensei nele como o substituto do Jack. Pelo carisma, atuação e todo o resto que se vê na tevê e internet. O cara era sensacional. Acredito que esse último filme – de um cara que aparentava se dedicar muito ao trabalho – será histórico. Não sei se será o melhor filme da década, nem do ano, mas vai ser de arrepiar.
Essa vida é muito arteira. A arte a imita? Quem imita quem? Hoje só sei que ambas perdem, pois Heath Ledger vai fazer falta.
Estava eu a caminhar pelo Setor Comercial Sul em busca de informações que me ajudassem a chegar ao restaurante “Árabe do Brasil”. Aquilo ali é meio confuso para quem não está acostumado. Pergunto para a moça da quitanda, o cara do “vale-tique”, a senhora que vendia cocadas e também a um grupo de homens sentados na calçada.
É interessante a existência de uma cordialidade, por vezes exagerada, das pessoas ao dar informações. Várias histórias de vida, muitas delas sofridas e de lutas (claro, os engravatados do SCS não passam seu horário de almoço com a “ralé”) estão por trás das informações dadas. Então você pergunta qualquer coisa, e todos se engajam muito para te responder. Mil direções que, às vezes, só atrapalham e te confundem mais! Se não sabem, as especulações e possíveis direções para o endereço desejado são ainda maiores! Aí você está com pressa e ainda se irrita com tanta informação. É sempre bom valorizar cordialidades em tempos de rudezas e esquecimentos de gentilezas. E ainda, é bom rir da situação que você se depara apenas por perguntar. Você tem que agradecer várias vezes, pois sempre tem mais alguma informação depois que você diz “obrigado”! Mas tudo bem, muitos “obrigados” para singelas cordialidades”!
Tentei juntar as informações, andei um pouco e não achei o endereço. Então tentei conversar com alguns policiais miliares que estavam parados perto de uma casa lotérica. Depois de um “Oi gente, boa tarde”, fui fuzilado (ó o trocadilho) por olhares que pareciam querer dizer: “como ousa dirigir a palavra para os legítimos representantes da lei?!”. Após 5 longos segundos, um dos três fardados me responde com um breve “Boa tarde, cidadão”. Pergunto sobre o supracitado restaurante, e não ouço NENHUMA resposta. Continuam a ouvir as palavras que saem do rádio da corporação. Insisto, “é difícil achar as coisas aqui, ainda bem que conhecem [nem “vocês” nem “senhores” para referir-me a eles] o local para me ajudarem...”. Passados mais uns 10 segundos, o soldado Teles [nome real para não preservar a identidade do dito cujo] olha em minha direção e diz: “sobe depois daquele prédio [apontando] e vira à direita [gesticulando para a esquerda]”. Rapidamente voltaram a escutar os sons do rádio e eu já novamente não existia. Segui à esquerda e, de fato, ele não sabia o que dizia, mas sua mão sim, ao menos. Cheguei ao restaurante, por fim.
É impressionante como alguém de farda impõe medo às pessoas. Ao ver um policial fardado, a sensação é de se afastar, de evitar qualquer tipo de contato. E essa postura só intimida o trabalhador, o pai e a mãe de família, a criança que só tem a rua como casa.
Em um mesmo local, numa mesma hora, vivência de cordialidade sincera imersa no medo da hostilidade gratuita de quem, teoricamente, deveria zelar pela segurança e proteção de todos. Segurança essa que está nas mãos de um profissional que nem sabe ao certo o que é ser cidadão, nem sabe o porquê de estar ali.
Mas fica a felicidade em afirmar: que bom que ainda não é cada um por si!
Ps.: Imagem aleatória. XD
Mas nem tudo chega ao mesmo tempo. Um beijo de amor, um resultado de uma prova, a conquista de um trabalho, o sorrir dos amigos e o orgulho da mãe. A cura, a glória e a sabedoria no momento de dor. Tudo isso pode (e não vai) chegar a um tempo só. Sempre vai haver a sensação de “qual o próximo passo?”.
O que há de se fazer é agradecer pelo hoje. Hoje eu sou um homem melhor. Hoje eu fui melhor como filho e como amigo. Hoje eu pude rir e comemorar as recentes conquistas. Hoje eu pude pensar em como me cuidar melhor, porque é só assim que estarei forte para enfrentar as tormentas da vida.
Há mais a se fazer, claro. A batalha é dura e está longe de acabar. Mas hoje e sempre lhe sou grato, Príncipe da Luz.
Dias que se arrastam e nada muda. Acorda 6 da madrugada, passa por um dia desse tipo e pega engarrafamento até na hora de voltar para casa, às 23hs. Chega a casa e procura a chave certa para abrir a porta e é nessa hora que todo o dia ruim é esquecido: ele está ali, deitado na porta, te esperando. Deve ter corrido o dia todo, brincado, “marcado” território na roda do carro da mamãe, rolado na grama e vigiado muito bem a casa. Ele também está cansado, mas boceja, levanta e pula em você te chamando pra brincar, para te dar uma alegria em meio a um dia tão chato e estressante.
Se você está cansado das pessoas, é só olhar pra ele para perceber o que é lealdade e amizade. O que é carinho e atenção. Alegria e satisfação apenas por você ter aparecido. Não precisa de mais nada além de um cafuné e um pouco de retribuição na atenção. E mesmo que você não queria falar com ele, não tem problema. Abaixa o rabo, deita e volta a dormir, sem rancor e estará pronto para te dar uma lambida de "bom dia" na manhã seguinte!
Outra coisa é meu quarto. Nunca fui o mais organizado – pelo contrário. Minha mãe sempre ameaçou jogar a bagunça toda pela janela porque ela nem conseguia entrar no meu quarto (não conseguia porque não era fisicamente viável mesmo). Com EMB, UnB, Nups e tudo que a vida acadêmica traz, o quarto ficava mais tempo arrumado, justamente porque eu não estava nele. Comecei então a conseguir mantê-lo limpo e arrumado, mesmo fazendo de cabide a cadeira do computador e o puff do chão (tá, eu tenho um puff no chão, que é bem confortável e nada metrossexual!).
Mas o que barba e quarto bagunçado têm em comum? Não só os behavioristas diriam que “a barba é algo que te faz manter as pessoas afastadas” e “a desorganização mostra algum desarranjo em alguma parcela da sua vida”. É mais sutil do que perceber aquele cachorro condicionado babando pela comida apenas ao ouvir o barulho do sino (sabe, né?). De certa forma, em algum lugar se manifesta a angústia, ansiedade, nervosismo que deixam a baixa-estima do rapaz lááá no alto! (Nossa, como eu sou engraçado, ai ai.). E nada de se livrar das coisas que reproduzem esses sentimentos que falei.
Eu vi um site que enumerava os “sintomas da desorganização crônica”. Que seriam
· Acúmulo de grandes quantidades de objetos, documentos, papéis ou outras posses além da necessidade ou prazer aparente.
· Dificuldade em se separar das coisas.
· Ter uma vasta gama de interesses e muitos projetos não finalizados.
· Necessidade de “dicas” visuais para se lembrar do que fazer.
· Tendência a se distrair facilmente ou perder a concentração.
Ficar lendo essas coisas é igual ter aula de “psicologia da adolescência” e não achar que teve sérios transtornos nessa fase da vida, ou seja, você sempre pensa “eu tenho tudo isso aí...me mediquem”.
Então eu olho a minha mesa do computador (foto) e penso em explicações para ela estar nessa situação. Um mouse quebrado e teclado apoiado com tampa de bic não são minha culpa. Prato, copo, xícara, caneca e o saco de batata-frita também estão aí por ter que trabalhar em casa (vamos movimentar o mundo do Capital, ora bolas!) e não ter tempo de comer direito (Aham). Cd’s porque sem música não dá para trabalhar. Viu, eu tenho explicação para toda a bagunça. Toda não, pra esse copo do RBD não tenho como me explicar... =)
Mas chega de explicações “estímulo-resposta”, já tá na hora de arrumar o quarto. Quanto a barba, não vou fazer ainda não. =}
Mas ver-se (daí o espelho) nem sempre é o que acontece. De fato, é o que menos acontece. Eventos externos são tomados como ponto de partida para a construção do que achamos ser integrantes no Eu, égide de nossa essência como pessoa. Em um mundo do “ter”, “ser” já não é mais o objetivo do viver, que dirá olha-se e reconhecer-se como algo maior que o reflexo visto no espelho, desapercebidamente, todos os dias.
Alegria e tristeza são dois momentos que exemplificam a metáfora acima. A primeira nos dá a sensação de vitória, do ‘dever’ cumprido e a “certeza” de que algo bom está sendo feito de uma vida. Já a tristeza é a frustração de saber que apenas “ter” não nos faz “ser” nada, absolutamente nada.
Mas essa dicotomia Alegria/Tristeza acaba por cair nas trivialidades da busca cega por bem-estar. E apenas isso. Ciclos desse tipo vão e vêem, mas jamais você se encara no espelho e diz os quão irrelevantes e vis são seus atos diários. Vida frívola que também mantém a condição jungida de outrem, apenas por não conseguir dizer, de fato, quem és ao se encarar no espelho.
E como já me disse um grande amigo: “e pra Deus você tem tanto valor que valeu o sacrifício de uma vida. E isso é só uma entre as razões pra nos amarmos a nós mesmos e nos valorizarmos.” Se olhar no espelho, romper o ciclo da cegueira e entender o que é, realmente, ser feliz e perceber o que significa passar por momentos de luto e tristeza.
A sociedade brasileira está comovida. Não só isso, ela está interessada e disposta a saber tudo sobre o novo hit dos meios de comunicação tupiniquim: o caso Isabella.
A primeira notícia, em 30 de março, foi “menina de 5 anos é jogada pela janela do sexto andar de apartamento em zona nobre de São Paulo.” Chocante, né?
Passaram-se algumas semanas e rádio, TV e internet só falam sobre isso. Não só falam do caso em si, mas também dos sub-assuntos que englobam o assassinato, como a discussão sobre o caráter do pai e madrasta (possíveis assassinos); a dor da mãe que perdeu a filha e amiga, como ela mesma diz; os vícios de forma encontrados pelos advogados de defesa; as contradições nos depoimentos dos acusados e etc. O mais interessante é quando há notícias do tipo “família viaja 800km para visitar a casa dos pais de um dos acusados de terem matado a menina Isabella”. Em dia de interrogatório, essa comoção extrapolou tudo: pessoas faltando ao trabalho e à escola só para terem o prazer de estar perto das novas celebridades da sociedade brasileira.
Em uma dessas reportagens eu vi uns moleques chutando o portão da casa de alguém que tem parentesco com o pai da menina morta. Em outra, falava-se do comércio popular que se instaurou perto da delegacia onde estava ocorrendo o interrogatório. E a delegacia ainda parou TODOS os processos para se dedicar exclusivamente ao caso.
Ontem eu estava zapeando e vi “a primeira entrevista dos acusados” na TV Globo. Lágrimas aqui, opinião popular dalí. Foi mesmo um programão de domingo... Hoje no jornal da hora do almoço teve uma entrevista com um psiquiatra forense (!) para analisar as imagens da entrevista do casal no Fantástico.
Obviamente foi um crime bárbaro, cruel e que precisa ser resolvido. Mas eu me pergunto onde está a comoção da sociedade brasileira para todos os outros casos de assassinato de crianças nas periferias. Crianças que são vitimas do tráfico de drogas e de armas. Crianças que são vitimas de sua condição precária de saúde e educação e que morrem todos os dias das mais diversas formas, tão ou mais cruéis que a do caso Isabella.
Para transitar entre as pessoas e seus respectivos grupos, é preciso certo grau de “alteridade comportamental”, que seria adaptar-se ao ambiente e codificá-lo, mas sem se tornar parte dele, necessariamente. Isso é complicado, justamente pela necessidade de fazer vista grossa e se rebaixar à linguagem dominante para poder ser bem sucedido na tentativa de convivência sem ficar o tempo todo “com vontade de ir embora”.
Mas isso tudo é muito trivial. Estamos aí, vivendo com ou sem inserção em grupos específicos. Mas o problema é quando há qualquer tipo de desconforto, seja por simplesmente estar presente, seja por alguma situação que motiva o embaraço. Ficar com vergonha ao dizerem algo direcionado a você, por exemplo. Ou piadas grupais focadas em alguém.
Mas como chegar a um grupo qualquer, com o zíper da calça aberto, ser alvo de qualquer apontamento grupal e não se envergonhar? Ou sair tranquilamente na rua com um tênis de cada cor? Não se trata de tentar ser exótico, ou “o” diferente, simplesmente (isso recai inevitavelmente no argumento primeiro desse texto – você estará participando do “grupo dos exóticos”, o que dá na mesma). Trata-se de não alimentar, com um possível embaraço, nenhum tipo de sentimento ou sensação ruim ao ser sabatinado com algo que é seu, inerente à sua vida e modo de agir ou pensar. Na verdade, não haverá embaraço.
Tem uma música que diz: “seja você, mesmo que seja bizarro”. Mas ser você – e se apropriar de si mesmo – vai além disso. Ser autêntico e ter pensamento autônomo é se apropriar do que você realmente é e, muitas vezes, (re)significar sua luta contra as marés das convenções sociais que tanto envilecem as identidades das pessoas. Pensar em você como um ser único, que já valeu o esforço de uma, não deve ser alguém que sofre ou se deprecia apenas para evitar os remoques de comportamento que tentam fazer conosco todos os dias.
Dessa forma, o diferente não é visto como estranho; o engraçado não é percebido como pândego; o inusitado não se torna alvo de depreciações.
Parte 2. Memórias inventadas?
por Eduardo Chaves - sexta, 2 novembro 2007, 02:08
(Re)pensando a infância e a escola. Uma das coisas interessantes desse exercício mental é a possibilidade de fazer diversas leituras de um mesmo fato. O que lembro agora foi realmente o que de fato aconteceu? E, ainda, a forma que conto foi realmente a forma como pensei? Assim, percebo uma sucessiva "terceirização", por mim mesmo em cada pensamento novo sobre o velho, que faz com que diversos sentimentos e possibilidades sobre um mesmo evento apareçam.
Estudamos a Zona de Desenvolvimento Proximal, proposta por Vygotsky, em outra disciplina. Lembrei na hora da experiência do cadarço com o Diego na Pré-escola. Esse é um exemplo de como estudar algo que nos remete à nossa própria existência é interessante. Justamente sobre isso que eu queria falar.
Temos uma colega que nos fala sobre amor. Não um amor específico, mas amor de forma geral e [fascinante!] que muitos não estavam acostumados a ouvir. Falar sobre sentimentos como amor ao próximo, respeito e manutenção de valores, assim como minha experiência com o cadarço finalmente entendida pela teoria de Vygotsky, nos remete a pensar o que nos é posto à apreciação de forma a (re)significar nossos próprios atos. Ora, se quando estudamos química no ensino médio conseguíamos apenas relacionar com nossa vida quando nos era dito que poderíamos fazer uma bomba usando apenas cloro e leite ["viu? a química interfere no seu dia-a-dia!"], com as ciências humanas não é bem assim. Falar sobre teorias sociais, psicológicas, filosóficas e etc, é falar sobre nossos atos e condutas como pessoa.
Dessa forma, quando a colega traz o amor como assunto de aula, é como se ela apontasse o dedo na cara de quem não quer pensar em nada disso. "Não! Eu quero continuar a sair por aí, me relacionar de modo - digamos - perigoso, tratar mal as pessoas que me servem - como porteiros, balconistas, etc -, falar alto com minha mãe, ignorar uma série de fatores e, ah! Continuar a viver "sem peso na consciência!"". Afinal, estamos na era do desapego. As pessoas querem viver sem se preocupar muito. No máximo passar em um bom concurso, já tá ótimo. "Aí vem uma menina propor o crescimento pessoal através de auto-conhecimento?! Nada disso! Eu me conheço, sei que fico com peso na consciência, então é melhor nem ouvir o que ela fala!".
Esse caso é parecido quando eu falo sobre minha decisão de ser vegetariano. "Por que você é vegetariano? Carne é tão bom...". Ora, por inúmeras razões eu optei.... "ih...eu não queria ouvir isso tudo....era só falar que vc não come carne pq é fresco...dá trabalho ouvir isso tudo e eu teria que pensar....". Não importa pras pessoas se um ato, aparentemente banal, é fator de degradação brutal do meio-ambiente. Não importa se os animais são sub-julgados por um pensamento especista e cruelmente assassinados. Não importa se essa carne tem hormônios, uréia e outras toxinas que fazem mal ao meu organismo. "Nada disso importa. O que importa é o meu prazer. Eu em primeiro lugar." "Ah, mas eu li na Veja que a carne faz bem...". Faz bem pra quem?
Mas o que isso tem a ver com as memórias inventadas e educação? Simples, pensar o amor e sua relação com o que você come é difícil. Esses aspectos usados como exemplo são nos dados de forma bem pronta. Não é preciso pensar ou repensar nada em relação a isso, já tá tudo "funcionando muito bem assim". Quero dizer que nossas lembranças só são realmente condizentes com a verdade quando fazemos esse exercício de repensar nossa relação com a realidade. Amor não é banalizar as relações afetivas. Animais não são comida e a natureza não é recurso. Assim como a escola não é um espaço para enfiarem na nossa cabeça algo que nem sabemos ao certo o que é. Repensar aspectos mais próximos de nossa vida atual é fundamental para repensar certas práticas que sempre vivenciamos e que, bem ou mal, estaremos ajudando a reproduzir no futuro. E um agravante, como pedagogos, estamos mais próximo de mudar uma realidade ruim ou de reforçar e potencializar aspectos que deveriam ter sido banidos já na nossa época escolar.
E sim, as memórias são reinventadas a cada segundo. No ensino médio era legal assinar chamada pro colega. E por que mesmo (re)pensando nosso modo de ver a educação do ponto de vista do pedagogo, esse tipo de prática ainda se mantém?
Agora, depois de toda essa reflexão, quero sim que as memórias sejam preservadas. Mas, porém, contudo, todavia e entretanto, quero também que elas sejam reinventadas a cada passo de crescimento pessoal.
Com essa motivação, relembrar o(s) tempo(s), resolvi postar a primeira parte de um texto que escrevi para uma disciplina de Filosofia que fiz semestre passado. Adorei o exercício e recomendo a todos!
Parte 1. Memórias vividas?
por Eduardo Chaves - terça, 30 outubro 2007, 17:02
Meu primeiro dia de aula foi estranho. Eu estava super empolgado para começar, mas olhava pros lados e via coleguinhas passando mal de tanto chorar pedindo pela mãe. Até pensei "nossa, a mãe deles é tão legal que eles não querem largá-las um único minuto sequer!". Até pensei, por um instante, que minha mãe poderia não ser tão legal como eu pensava! Mas vi que não era nada disso...
Ainda me lembro a roupa que usava: um coletinho verde c/ cinza, uma bermuda azul marinho e o tênis do Rambo (a faixa vermelha para amarrar na testa minha mãe não deixou eu levar pra escola)!
Estava eu, então, começando as aulas na única turma de Jardim da escola. A professora Nilma tinha fama de ser muito malvada. Minha tia chegou até a atrasar a entrada da minha prima na escola só para esperar um outro primo ter idade escolar para acompanhá-la na escola. Mas eu não tinha medo dela. Talvez pelo fato de meus pais me passarem muita segurança, ao contrário de minha tia para com meus primos... Mas acabou que ela pediu licença pouco antes de começarem as aulas, ai entrou a professora Vera. Ela era ótima! Todos ficaram apaixonados por ela! (nada sexual ainda, para deixar claro! ;)
Como era uma escola rural, 95% das crianças eram de camadas populares. Ou da "alta classe média-baixa", como costumo brincar. Mas uma coisa que eu não entendia era o porquê de mesmo tendo a mesma condição financeira dos meus colegas, apenas eu tinha o material escolar completo. Naquela época eu não sabia que a carência material não é determinante para a carência afetiva e emocional...
Pois bem, passei para o Pré. A professora malvada voltou de licença e assumiu a minha turma. Ela gritava muito com todo mundo, mas pelo fato de meu pai ou minha mãe sempre me buscar na escola, ir a todas as reuniões e etc, ela era legal comigo. Lembro que correu tudo bem durante o ano e foi nessa época que vi o Diego amarrando os cadarços e finalmente eu aprendi com fazê-lo também! Eu já tinha 6 anos e meu pai tinha que amarrá-los para mim todos os dias, isso era uma vergonha, pois até os meninos do Jardim já sabiam, e eu não.
Cheguei à primeira série como um dos poucos que sabia "ler direitinho". No primeiro dia de aula, na expectativa de ter aula novamente com a professora Vera, soubemos que ela tinha sofrido um acidente de carro e havia morrido. Assim como no dia que meu avô morreu, 3 meses antes, o dia ficou totalmente cinza. A perda realmente era algo novo pra mim, eu não sabia ao certo que sentimentos estavam dentro de mim... Foi difícil esse começo de ano, pois na escola os funcionários, alunos, direção e professores andavam cabisbaixos; em minha casa o clima era pesado devido à morte de meu avô... Mas meus pais tentavam me poupar dessa dor toda, e eu percebi que isso não foi legal em outros momentos da minha vida, pois precisei encarar perdas e foi bem mais difícil do que eu esperava.
Seguiu-se as aulas com a professora Lucinha na 1ª série, a profa Ana na 2ª, a profa. Cola - de Colandy - na 3ª e, denovo, a malvada Nilma na 4ª série. Nessa e´poca, a professora estava mais megera do que de costume, e vários alunos passaram muito mal durante as aulas. Terror total! Principalmente na hora de ir ao quadro e responder questões de tabuada. Lembro que uma vez passei tão mal que desmaiei no meio da aula, bati até a cabeça no chão. Fui pra casa e ficou tudo bem. No dia seguinte eu voltei pra escola e a Nilma disse: "Ou vocês decoram essa tabuada [a tabuada de 7, no caso], ou pode capotar aqui na minha frente que eu não vou nem socorrer!", fazendo referência ao meu desmaio no dia anterior. Percebi tempos depois que essa atitude da professora foi tremendamente repudiável.
Outra coisa que me lembro dessa época na escola foi a primeira paixão. Foi na segunda série, com 8 anos. Eu estava sentado no banco principal do pátio, conversando sobre a escolinha de futebol com o Fabinho e o Cocão. Até que vejo, subindo a rampa, a coisa mais linda que eu já tinha visto. Ela era alta, cabelos cacheados e já usava perfume, olha que coisa! E além do mais, ela era MUITO mais velha, tinha DEZ anos! Fiquei "a fim" dela até o fim da quarta-série. Passei por todas as fases de meninas populares [nem pela Letícia - que já usava sutiã - eu me apaixonei!]. Me mantive firme em meu amor por 3 anos... Um fato interessante é que fiquei sabendo esses dias que a Cícera (esse era o nome dela) tinha casado e tava com uns 7 filhos "lá pras banda do Ceará". A vida e seus caminhos!
Assim, penso que educar é algo muito difícil. As professoras tinham boa vontade [nem tanto a malvada], mas por algum motivo eu não encontro meus colegas mais por aí. Na UnB, não entrou ninguém. Esse processo educacional e todas as ramificações que aparecem no caminho podem mudar completamente a trajetória de alguém. Vi que mesmo garantindo o acesso a todos à escola, não há oportunidade para todos, pois não acredito que eu me dediquei mais que meus colegas para chegar aonde cheguei. Esse caminho onde ocorrem as saídas de rumo também é objeto de estudo da pedagogia. Entender os processos societários que abrem brechas para que muitos não cheguem até o final da estrada é com certeza um grande desafio para a sociedade, em especial para mim como futuro pedagogo.
Abraços.
"mas ele diz que me ama...": cegueira relacional e violência conjugal
Fabrício Guimarães; Eduardo Chaves & Sérgio Maciel.
Ciclo de Violência na Relação
O padrão é mais ou menos esse: beijo! Tapa! Beijo! Tapa! Beijo! Tapa! Para cada tapa, ganhamos um beijo, e para cada beijo ganhamos um tapa. Em qual deles escolhemos acreditar? No beijo, é claro. É o que nos mantém ali (Penfold, 2006, p. viii-ix).
Pelfond (2006) relata em sua obra a suas experiências conjugais que se perpassaram ao longo de 10 anos. O livro é protagonizado por Rosalind (Ros) – 35 anos, empresária – e Brian – viúvo, pai de quatro filhos. A narrativa mostra como Ros passou de uma mulher forte e bem-sucedida a esposa violentada e maltratada. Trata-se de um livro ilustrado e de fácil compreensão, fatores diferenciais da obra em relação às outras sobre o tema. Conta de forma bem didática, detalhes da construção e manutenção da dinâmica violenta. Segundo o site oficial (www.friends-of-rosalind.com), o livro foi lançado originalmente no Canadá e traduzido para 10 paises, inclusive o Brasil.
O objetivo deste trabalho situa-se em promover uma discussão teórica a respeito do ciclo de violência conjugal e das crenças compartilhadas que contribuem para a manutenção do relacionamento violento dos personagens do livro, a partir da literatura especializada da área e da experiência dos autores deste trabalho em atendimentos psicossociais no âmbito da Justiça do Distrito Federal a casais que vivenciam situação semelhante ao do casal protagonista.
A discussão se baseia na teoria do ciclo de violência (Walker, 1979, citada por Angelim, 2004), e propõe o conhecimento de uma relação violenta a partir de uma perspectiva sistêmica e dinâmica. Walker defende a existência de três fases: Construção da Tensão: começam os incidentes menores, uma tendência a considerar os fatos como se estivessem sob controle e uma aceitação por meio de explicações racionalizadas. Tensão Máxima: ocorre o descontrole da situação e as agressões são levadas ao extremo. Há uma reconfiguração da dinâmica relacional, podendo surgir separação, intervenção de terceiros ou manutenção da relação violenta. Lua de Mel: ocorre uma reestruturação do relacionamento. O agressor relata desejo de mudança, promessa de que não ocorrerá mais violência e restabelece a relação conjugal. Com o tempo, devido à dinâmica e ao desgaste relacional, tende-se a iniciar um novo ciclo.
Penfold (2006) descreve o processo de vários ciclos na dinâmica do casal. A violência se instalou sutilmente e atingiu todos os níveis e formas. Os momentos da fase de Lua de Mel ficaram mais curtos, cedendo lugar às fases de Construção da Tensão e Violência Máxima. A Lei 11.340/06, conhecida como "Lei Maria da Penha", define cinco formas principais de violência contra a mulher: física; psicológica, sexual, patrimonial e moral (Brasil, 2006). Guimarães, Tusi e Rangel (2006) relatam que a violência contra crianças e adolescentes abrange ameaças, negligência, chantagens, humilhações, espancamentos e abuso sexual. A relação descrita na obra propiciou todos esses tipos de violência e mostrou como suas conseqüências deletérias atingiram todos os aspectos da vida de Ros e das crianças.
Penfold (2006) é brilhante ao mostrar como a participação da família, amigos e ajuda profissional foram fundamentais na luta da protagonista contra o agressor e, de certa forma, contra si mesma. Sendo assim, tudo conclama para a necessidade de intervenção em rede e o empoderamento do grupo familiar, em especial da mulher (Silva, 2006).
Crenças anestésicas
Por que Brian se comportava daquele jeito? Quase morri tentando descobrir. Por que não fui embora? Essa pergunta é mais importante. Eu acreditava em dar a outra face... que ele me amava... que ele iria mudar... que eu podia proteger seus filhos... que meu amor o tornaria melhor... usei incontáveis desculpas para racionalizar minha insistência no relacionamento, porque me recusava a encarar a verdade (Penfold, 2006, p. ix).
Para entender a perpetuação do ciclo de violência, Ravazzola (1998) defende que ocorre uma verdadeira anestesia ou "duplo cego". Nesse processo, a pessoa tira do seu campo de consciência uma parte da experiência e fica incapaz de sequer perceber essa falta, o que, por um lado assegura sua sobrevivência, mas por outro, a mantém presa ao ciclo relacional abusivo.
O agressor se sente vítima do comportamento da mulher ou dos filhos; teme a independência destes; não percebe o sentimento dos outros e nem consegue nomear sua insegurança, e por isso tem que controlar a ação destes e evitar a intervenção de terceiros na dinâmica de sua família. A vítima se sente inferior e destituída de poder sobre sua própria vida; acredita que deve cuidar dos outros, em detrimento de si mesma; possui baixa auto-estima, desconhecimento de seus recursos pessoais e seus direitos; acredita que há algo errado em si mesma e alimenta sentimento de culpa pela violência que sofre. Cabe ressaltar que a experiência em atendimento psicossocial dos autores corrobora a tese de que tais crenças são compartilhadas por agressores, vítimas e demais atores do contexto (Ravazzola, 1998).
No decorrer do livro, essas crenças anestésicas se aperfeiçoam na medida em que a violência aumenta. Ros iniciou com uma leve confusão no primeiro ciclo até ela verificar que "não sobrou nada de mim" (Penfold, 2006, p.169). Essas crenças corroboram a principal: "mas ele diz que me ama", que dá título ao livro. E favorecem que Ros e Brian não vejam que não vêem a relação violenta e suas conseqüências, daí o termo "duplo cego" (Ravazzola, 1998).
Por isso, a ajuda de terceiros e/ou a intervenção psicossocial deve "promover junto à família uma reflexão sobre o contexto abusivo, re-significando o sintoma da violência" (Guimarães & cols. 2006, p. 297) e retomar o mal-estar e o medo na vítima devido à sua situação e a necessidade de mudança (Ravazzola, 1998). Entretanto, nem todos os casais em situação de violência conseguem sair ou reestruturar a relação. Muitos precisam da intervenção da Justiça. Em outros casos, as mulheres se submetem a essa situação ad infinitum ou ocorre um fim trágico, em que as vítimas são assassinadas pelos seus cônjuges ou ex-cônjuges.
comecei a ter esperanças de que meus desenhos pudessem ajudar os outros – nem que seja uma pessoa só – a perceber os danos terríveis e duradouros que tal ambiente causa em uma família (...) embora os desenhos sejam meus, infelizmente o padrão de abuso que eles representam são muito comuns (...) Tenho esperanças de que meus desenhos ajudem homens e mulheres a identificar os sinais de alerta que indicam abuso (Penfold, 2006, p. xi).
Pelos aspectos descritos acima, entende-se que a intervenção junto a casais em situações de violência deve contemplar um olhar amplo acerca das crenças e discursos compartilhados entre os atores envolvidos nessa questão, os quais contribuem para a manutenção do padrão relacional abusivo, impedindo que as pessoas integrem sentimentos e ações que lhes permitam elaborar um pedido ajuda.
Ademais, o entendimento da violência conjugal como um processo cíclico, relacional e progressivo, ajuda a re-significar o contexto de intervenção e propor novas formas de intervenção junto a essa clientela.
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722007000400015
Dizem que não é sempre que o dia do seu aniversário começa com sol e chuva. Hoje fez sol. Hoje choveu. Mas meu dia começou à meia-noite (o dia seguinte só começa depois que durmo e acordo, não necessariamente à meia-noite), com telefonemas e apitos de celular. Desejos e sinceras palavras de quem me gostam. Voltei a dormir. Sonhei com quem já se foi e acordei com cantos de papagaios (que normalmente só cantam ao final da tarde, mas hoje me surpreenderam pela manhã).
Dezoitos de março sempre foram metódicos, com presentes, bolo e parabéns. Sempre
A partir de hoje, dezoitos de março serão assim, cheios de alegria, risadas, lágrimas de felicidade e, acima de tudo, celebração da vida, do amor, das amizades e oportunidades que Deus me dá toda manhã de levantar e ser feliz – depois de hoje, mais ainda – e saber que sou a alegria de muita gente.
Obrigado amigos, mamãe, papai e família. E obrigado meu Pai.
Hoje não há muita esperança nas coisas. Tudo é como é “porque é assim que tem que ser”. Coisas mais pontuais, como alguma enfermidade grave ou terminal e demais perdas iminentes são facilmente aceitas – e nem sempre confortadas ao coração – de forma mais consciente.
O problema jaz em situações ou coisas que não temos controle, como nos casos acima, mas que podem ou não ser diferentes do que os olhos e o coração vêem. Esse “ou não” que é o responsável por inúmeros sentimentos que atacam o pensamento justo e racional e fere como um punhal afiado esse nosso órgão que insiste em querer filtrar tudo que sentimos – o coração. Ah, o coração....
Em tempos de desamores, muita gente consegue atingir um estado quase desconectado da realidade para conseguir viver sem sofrer. Ou sofrer o mínimo possível. É dessa forma que amores efêmeros e paixões ligeiras estão cada vez mais presentes na vida das pessoas. Apenas adia-se os lutos, as dores, os sofrimentos e, o mais importante, o crescimento pessoal através do auto-conhecimento e reflexão sobre tudo que vivemos a cada dia, cada hora.
Mas quem se propõe a não viver nas efemeridades sofre outro tipo de dor: a dor da esperança. Não aquela esperança em dias melhores (muito genérico) ou que as coisas vão se acertar com o tempo... não. A esperança de que ser divergente dos amores efêmeros é inerente ao sofrer e esperar pelos outros, na expectativa de que essa postura ajude-os de alguma maneira.
Logicamente, nossas decisões não afetam apenas a nós mesmos. De modo geral, todos optam ora por não tomar as decisões – afinal, a dor da esperança de outrem vai fazer com que eles tomem a decisão por mim – ora por tomar a decisão precipitada, errada e infundada, que nada mais é que prejuízo emocional e afetivo para si mesmo - embora se ache que não em um primeiro momento - e para as pessoas ao nosso redor.
Assim, uma vez se colocando como alguém diferenciado nessa perspectiva toda de desamor, você vai sofrer antes, durante e depois, tanto pela sua parcela de responsabilidade, quanto pela responsabilidade do outro, já que é fácil perceber quando se acha alguém em que se pode jogar tudo para cima, até pensar e refletir por nós.
Porém, todo esse processo nos dá a certeza que estamos a construir algo sólido, que nenhuma tormenta irá derrubar. Algo que vai além de bem-estar momentâneo e tópico, que não atinge o coração. Ter esperança de ver alguém voltar ao que se tinha e era bom, verdadeiro e sincero, mesmo que esse retorno não seja à nossa fortaleza. Esperança de que ao pegar para si os erros e equívocos de outrem, eles irão rever atos e palavras e perceber o que realmente quer dizer amar e querer bem.
Mas a caminhada não pára. Como diria o Pregador Luo:
“Haja o que houver não desista
Seu bom momento pode estar dançando do seu lado na pista
Então dance com a vida, pra que seu bom momento exista.”
E apesar das tormentas, as dores da esperança nos fazem...
“Ter [a] certeza que é da maneira certa que está se envelhecendo
Seja qual for o momento, lembre de um bom tempo...
Cante a canção, agora mesmo pode ser um tempo bom!”
Postagens mais recentes Página inicial